Texto inédito que fiz para uma revista e não vendi.
Falta de público, de apoio, de local apropriado para continuar acontecendo. Essas são algumas dificuldades que o Projeto Um Outro Olhar já enfrentou ao longo de seus anos de existência. Para que continuar, então? Essa é a pergunta que seu idealizador e coordenador, Paulo Campagnolo, faz a si mesmo todas as semanas, quando precisa escolher o filme que será exibido no sábado seguinte. Como resposta, apenas a sensação de que seu trabalho ainda não está concluído. Nada mais.
O caçula de três irmãos, nascido em Cascavel, é um homem culto que nega com veemência o rótulo de ‘cinéfilo’. “Eu gosto muito de cinema. Não é nem uma paixão, é um grande amor, por que me dá de tudo: me dá soco no estômago, me afaga o ego, me faz chorar, me faz rir. Cinéfilo é aquele que gosta de todo o cinema. Eu não gosto de tudo”, diz. Não lhe peça para escolher um filme ou um diretor favorito. “Posso fazer uma lista de mil”, brinca. No seu acervo pessoal, compra apenas o que mais lhe comove. São cerca de mil livros e 400 filmes, pelos quais até já se endividou.
Seu “outro olhar” começou a se formar ainda na infância. “O cinema se tornou uma fixação para mim desde criança, quando eu fui pela primeira vez ao cinema. Fiquei absolutamente apaixonado aos seis anos de idade, quando vi ‘Era uma vez no oeste’, do Sérgio Leone. Jamais vou esquecer”. Ele conta que passava madrugadas assistindo filmes ou lendo escondido da mãe mas foi o ritual da sala escura, a pipoca e a tela grande que ficaram cativaram. Até hoje, gosta de sentar na primeira fila.
Coroinha até os 17 anos, hoje revela-se ateu. Abandonou o curso de Letras no último semestre. Na faculdade, não tinha amigos por que não fazia concessões. Hoje, de vez em quando até assiste filmes comerciais. “Pra mim é muito simples: cinema é um espelho. Conseqüentemente eu me identifico tanto com o assassino quanto com o herói romântico; tanto com o anti-herói triste, trágico, quanto com aquele que no final de repente consegue alcançar alguma coisa, um alento ou alguma redenção”.
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